>>4850E diferente do que pode parecer a primeira vista, imprimir não é tão caro quanto normalmente imaginamos que é, dependendo do custo da impressão.
Na amazon o livro da boitempo citado custa 69 reais e possui 392 páginas, segundo o site da amazon. O preço de 69 reais dividido pelas páginas é de 17 centavos a página. Uma folha frente e verso são duas páginas. O custo da página é o dobro, logo 35 centavos.
Em algumas gráficas de médio porte não é incomum achar xerox ou impressão a 10 centavos só frente e 25 centavos frente e verso. Me é estranho ser mais caro frente e verso normalmente ser mais que o dobro do preço, mas nessa linha seria possível imprimir esse livro por um preço entre 39 a 49 reais em tamanho A4, R$39,2 392 folhas só frente e R$49 196 folhas frente e verso. Colocando duas páginas por folha (que é o mais comum) o preço do livro cai para R$19,6 só frente com 196 folhas A4 e R$24,5 frente e verso com 98 folhas A4.
A não muito tempo eu avancei uma fase de qualidade na etapa de impressão de materiais e comecei a imprimir em forma de livreto, que é o mesmo formato das revistas das bancas de jornais mas num tamanho de A5. O custo é o mesmo que imprimir frente e verso com duas páginas por lado da folha, mas é bem melhor que o 1° por simular bem um livro de verdade. Dá um pequeno trabalho de diagramação fazer esses livretos, para ordenar o conteúdo e as páginas mas acaba compensando.
Eu tenho o privilégio de ter uma impressora de tanque de tinta em casa e é absurdo de barato imprimir, para se ter noção o custo da folha A4 é 4,8 centavos¹ e o custo da tinta na média nunca supera 1 centavo. Já fiz essas contas em 2023 e nunca me esqueci o quão barato é imprimir em uma impressora pessoal, a base da conta foi a partir do manual da impressora, com 75Ml de tinta preta se imprime em média mais de 4 ou 5 mil páginas e um refil pirata nunca sai por mais de 15 ou 20 reais, a tinta original da epson é R$50. Usando a tinta original de base para a conta seria 50 dividido por 4 a 5k o que dá um custo de tinta por ágina entre 1,25 centavo a 1 centavo por folha, uma tinta pirata é metade disso para baixo, que somando ao custo do papel beira de 5 a 6 centavos a folha impressa em casa.
Um livreto do livro a guerra civil dos estados unidos impressa em casa seria o número de folhas (196) vezes o custo de impressão frente e verso por folha (+/-0,06) que dá um custo aproximado de 11,76 reais. Teria um trabalho adicional para se grampear esses livretos e outro de cortar o excesso de papel, mas que lhe traria uma economia de mais de 57,24 reais.
A longa abordagem que trouxe mostra como as editoras no Brasil por terem uma vendagem baixa de livros acabam por serem forçadas a subirem os preços e serem absurdamente caros. A produção em escala deixa de ser benéfica para ser só um custo inicial mais alto, fora o repasse para os vários trabalhadores de uma editora, o repasse para o autor e o lucro do dono. Não se enganem, se eu um mero mortal com vários níveis de ineficiência em minha casa consegui reproduzir o texto numa pequena impressora a um custo baixo, significa que a boitempo e qualquer editora deve gastar no mínimo o mesmo ou provavelmente menos que esse preço. Algo semelhante acontece com as gráficas, que são mais eficientes que a impressora que tenho em casa, por terem impressoras maiores, porém com uma ineficiência bem maior que as gráficas industriais, que os obrigam a elevar o custo de impressão a bem mais que o dobro do preço do papel e tinta para se manterem e pagarem suas contas.
Se o nosso governo fosse além da desoneração da taxação de livros e realmente investisse nas nossas editoras, além de criar leis protegendo as livrarias, o preço dos livros certamente cairiam para bem menos da metade e mais brasileiros estariam lendo.
A editora mais barata que conheço é a Principis, desconheço o dono, que faz parte da ciranda cultural². Seu preço relativamente baixo se dá pelo fato e seus livros normalmente serem os de domínio público, reduzindo a quase zero os custos para além das matérias primas e a administração da empresa. E a qualidade em parte é boa pois o papel mais âmbar eixa a leitura menos agressiva que os livros que são brancos demais ou o branco da folha A4 tradicional. Ou seja, o Brasil que é um dos maiores exportadores de papel do mundo tivesse um pouco de controle sobre esse fluxo de exportação, poderíamos ter papel bem mais barato e por consequência livros mais baratos. Por outro o Brasil tem uma produção nacional de tinta patético, normalmente as tintas ou são as das fabricantes de impressora que custam muito ou são as paralelas importadas normalmente da Coreia do Sul. Uma política industrial séria de livros no Brasil talvez fariam livros como a da Principis custarem com facilidade de 2 a 5 reais. Quem sabe os livros da boitempo poderiam custar um quarto do preço que custa hoje?
¹Resma de 500 folhas a R$24.
²Essa editora de alguma forma foi muito presente na minha infância e tenho muitas memórias afetivas com ela.